A
Linha de Trabalho dos Boiadeiros foi criada sob o arquétipo do homem do campo
que lidava diariamente com a criação e com rebanhos de animais como cabras,
ovelhas, bois e cavalos. Em sua maioria eram boiadeiros, vaqueiros,
pastoreadores, tocadores de gado, peões e laçadores que por força de sua função
desenvolveram grande
determinação, uma fé forte e resistente, força de vontade, simplicidade, um
grande senso de liberdade e necessidade de conviver com a natureza e com os
animais de forma harmoniosa, respeitando a criação divina e a sua força demonstrada através do tempo climático
e das quatro estações do ano. Para essas pessoas, o tempo atua diretamente em
suas vidas podendo ser generoso mantendo seus pastos verdes e os animais
saudáveis ou rigoroso promovendo grandes estiagens que secam seus campos e
reservas de água fazendo sofrer seus animais. Têm a exata noção da importância
das ações da natureza em suas vidas e por este motivo respeitam a terra em que
pisavam, o ar que respiravam, a água que bebiam, a vegetação que os alimentava
e o fogo que os aquecia nas longas noites ao relento no campo. São homens e
mulheres fortes, habilidosos, valentes, impetuosos, persistentes e
responsáveis, pois recebem os rebanhos e os acolhem sob o compromisso de
conduzir todos eles durante a longa jornada até o destino final, em plena
segurança. Assumem a sua guarda, a sua alimentação, a sua proteção e o seu
direcionamento. Por todos estes motivos e por haver uma forte afinidade destes
espíritos com uma grande parte da população brasileira, a linha dos Boiadeiros
foi estabelecida e firmada dentro da Umbanda. Através dela se manifestam
espíritos que tiveram esta vivência e outros irmãos que tenham afinidades e
missões dentro de seu campo de atuação mas que podem não ter vivido diretamente
esta experiência na matéria. Com todas estas características marcantes e
vigorosas eles são um excelente auxílio e grande força de trabalho na atuação
sobre os eguns (obsessores, espíritos desequilibrados e negativados). São de
pouca conversa, mas de muita ação.
Podem se apresentar nos rituais de Umbanda
dançando, se movimentando como se estivessem galopando, rodando, girando as
mãos como se estivessem laçando gado, cantando, bradando, ou de outra forma
mais adequada à sua forma de atuação. Em sua aparência, são como os homens do campo e podem utilizar roupas de
couro ou de tecido, calças com franjas de couro ou bombachas, chapéus, botas,
esporas, laços, chicotes, berrantes e outros adereços de pastoreadores, peões e
boiadeiros. Utilizando suas principais “armas” espirituais, que são o
chicote e o laço de gado (instrumentos que são mistérios magísticos),
arrebanham e recolhem os espíritos trevosos redirecionando-os para seus locais
de merecimento estabelecidos pela Lei Maior e pela Justiça Divina. Desta forma,
os Boiadeiros tem autorização para conduzir os espíritos da mesma forma que
conduziam sua boiada, levando cada boi (espíritos) para o seu destino, e trazem
os bois que se desgarram (eguns, obsessores, quiumbas) de volta ao seu caminho
junto com o resto da boiada. Podem realizar suas funções através do tempo
atuando no presente e no passado, pois têm o amparo de nossa amada Mãe
Oiá-Tempo (Logunã) que permite esta ação para que possamos voltar ao caminho da
nossa evolução natural. Através das ondas espirais do Tempo, são recolhidos os
espíritos perdidos em suas próprias memórias desequilibradas e serão diluídas
energias densas acumuladas no decorrer de suas jornadas espirituais.
A Linha de Trabalho dos
Boiadeiros é regida por Ogum, Iansã e Oiá-Tempo (Logunã), pois é através de
suas irradiações divinas que todo o trabalho desses Guias é realizado. Os
Boiadeiros também podem receber irradiações secundárias dos outros Pais e Mães
Orixás para que atuem em seus campos de trabalho. Embora eles atuem de forma
muito eficaz na condução, direcionamento, recolhimento e redirecionamento de
espíritos, sua função primordial e de maior importância dentro dos trabalhos
mediúnicos é a dispersão e limpeza das energias negativas impregnadas nos
ambientes e nos campos magnéticos e corpos espirituais dos médiuns e
consulentes das casas de trabalho de Umbanda. Com seus movimentos circulares,
seja de seus corpos ou de seus chicotes, eles promovem “choques” energéticos
que vão soltando e desfazendo todos os agregados, miasmas, focos de doenças e
demais negatividades. Quando bradam, na maioria das vezes, estão ordenando os
espíritos recolhidos no local para redirecioná-los e deixar a casa de trabalho
em perfeita ordem e harmonia para realizar a sua caridade. Atuam no combate e
desmanche de demandas e magias negativas. Eles atuam em todas as religiões,
dizem que são os boiadeiros que “laçam” os fiéis de acordo com as suas
afinidades pessoais e o seu grau evolutivo e os direcionam para a religião que
melhor possa auxiliá-lo naquele momento de sua vida.
Nomes de alguns
Boiadeiros mais conhecidos: Boiadeiro
da Jurema, Boiadeiro do Lajedo, Boiadeiro do Rio, Carreiro, Boiadeiro do Ingá,
Boiadeiro Navizala, Boiadeiro de Imbaúba, João Boiadeiro, Boiadeiro Chapéu de
Couro, Boiadeiro Juremá, Zé Mineiro, Zé do Laço, Boiadeiro Severino, Boiadeiro
do Chapadão, entre outros.
Ervas
dos Boiadeiros:
Alecrim do campo, anis estrelado, capim-manteiga, cravo, gravatá, chapéu de
couro, folhas de bambu, quebra-demanda, pinhão roxo, casca de alho
Dia da
semana: terça-feira (ligado a Ogum e Iansã)
Cor: azul
escuro (Ogum), amarelo (Iansã) e azul noite ou prata (Oiá-Tempo/Logunã)
Oferenda: Velas
azul escura, amarela e azul noite ou prata, cravos e flores vermelhas e
amarelas, abacaxi, carambola, limão, laranja, uva, banana, açaí, frutas de
casca amarela ou vermelha, as frutas ácidas em geral, abóbora, cará, mandioca,
feijão tropeiro, arroz tropeiro, carne de sol, abóbora com farofa e torresmo,
água, sucos de frutas ácidas, cachaça com mel (“meladinha”) ou com canela,
vinho tinto seco, vinho tinto doce fervido com gengibre, cigarro, cigarro de
palha, fumo de rolo, charuto
Ponto
de força: campos, campinas, locais de pastoreio (montanhas), espaços abertos, ou
de acordo com seu campo de atuação
Saudação: Jetuá, Boiadeiro!
Salve, os Boiadeiros!
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